No atual mundo jurídico 4.0, não há mais espaço para se pensar no chefe ou Head do jurídico apenas como aquele advogado que possui maior conhecimento técnico e uma boa interrelação com magistrados e eventuais clientes – características essas, que continuam sendo importantes e desejáveis.
Mais do que ser um bom chefe, há a necessidade de ser um bom líder e liderança, por sua vez, é uma característica típica de gestão. Ou seja, aquele que é responsável pela área jurídica precisa ser, acima de tudo, responsável por conhecer e aplicar um conjunto de princípios relacionados às funções de planejar, organizar, dirigir e controlar a área jurídica da empresa ou mesmo um escritório jurídico.
Tais conhecimentos e habilidades vão muito além dos conhecimentos técnicos especializados do mundo jurídico – os chamados hard skills -; a capacidade de ser um bom gestor passa, principalmente, pela habilidade em desenvolver e possuir competências comportamentais – as chamadas, soft skills -, as quais, nada mais são, do que traços comportamentais inatos a todos os seres-humanos, em menor ou maior grau, mas a qual todos podem, com as devidas técnicas, desenvolver e aprimorar.
Dentro dessa perspectiva de importância das competências comportamentais, como características marcantes dos gestores, o Fórum Econômico Mundial, em 2020, elaborou um relatório chamado “O Futuro do Trabalho” , onde elencou as 25 principais habilidades comportamentais, as quais serão demandas pelas empresas, nos cinco anos após o relatório, merecendo destaque, a primeira colocada – pensamento analítico e inovação.
Quando se fala em pensamento analítico deve-se ter em mente a capacidade de analisar dados e informações para a solução de problemas complexos e tomada de decisões. Isso significa dizer, que devemos confiar menos em nossa intuição e nossa tendência a responder, automaticamente, à determinada situação e utilizar mais nossa capacidade de refletir e analisar as informações que temos disponíveis, de forma não automática, mais lenta e com maior enfoque em análises estatística/probabilística, dos fatos analisados.
Tal forma de pensar, mais lenta e reflexiva, acarreta um maior esforço e um maior consumo de energia pelo cérebro, o que leva a uma fadiga mental mais rápida, se comparada a nossa forma intuitiva e automática de agir e decidir, a qual é feita quase sem esforço. Porém, em um nível de gestão estratégica, onde a tomada de decisões e a resolução de problemas complexos possuem uma grande relevância, na definição e alcance das metas e objetivos da área jurídica ou da própria empresa, cabe ao gestor optar por utilizar um pensamento analítico e capaz de dar respostas adequadas, aos grandes desafios e dificuldades colocados em sua órbita decisória.
Pensar de forma analítica evita os chamados vieses cognitivos e as heurísticas comportamentais, os quais são, basicamente, erros de julgamento, em função de uma análise incorreta dos fatos, seja por desconhecimento de dados e informações relevantes e/ou por não considerar importante, a análise mais profunda e adequada desses dados e informações.
O que se busca evitar, com o pensamento analítico, é o famoso “achismo”, com tomadas de decisões estratégicas pautadas, unicamente, em intuições e armadilhas mentais, desconsiderando-se a análise de dados e informações relevantes sobre o tema a ser decidido.
O bom gestor é aquele que, naturalmente, em situações complexas e relevantes, desconfia de sua intuição, não ao ponto de não a utilizar, mas sabendo que ela não pode - e nem deve ser - o único elemento a ser usado no processo decisório; conhecer dados e informações sobre o problema estudado e depois aplicá-los no processo de tomada de decisões é fundamental para definir um caminho seguro e, estatisticamente, mais próximo da realidade.